
Ora cá podemos contemplar mais uma pérola do chico-espertismo português, esse que privilegia as trapaças e artimanhas e despreza o trabalho e a persistência (a não ser, claro está, para se escapulir aos impostos, passar à frente nas filas, cuspir e escarrar ruidosamente nas paragens de autocarro e afins, tratar da higiene dos meatos auditivos externos publicamente com a oh-tão-portuguesa unhaca, enfim, um inumerável chorrilho de pequenos actos tão pitorescamente nossos enquanto nação).
Já o Eça, o Antero e os outros grandes pensadores da sua geração sabiam que este país não andou, não andava e não ia andar para a frente tão cedo. Parecemos continuar presos nesse marasmo cultural, político, cívico, social, que penetra nos ossos como um nevoeiro frio e húmido.
Começo a suspeitar haver razões genéticas, polimorfismos mutilantes continuamente perpetuados através dos séculos, que nos perturbam o discernimento e impedem o progresso individual e colectivo.
Onde está o espírito intrépido, corajoso e inovador dos nossos antepassados lusitanos (Avé Viriato!), que nos fez conseguir ultrapassar adversidades e tribulações? E que nos permitiram iniciar os Descobrimentos? (Claro que o fluxo de ouro e outras riquezas nos fez perder a cabeça... já então éramos um povo em decadência).
Deixo estas e outras questões à reflexão do atento leitor, que pode também contribuir para o também tão nosso desancar no país sem fazer nada para o mudar na secção de comentários. Ou não fosse esse o grande desporto nacional (sim, porque o futebol é mais um circo - mas essa história fica para outra altura).
3 comentários:
Como dizia o nosso amigo Xptoinha, existem dois tipos de pessoas, aquelas que apontam o que está mal e aquelas que agem para melhorar o que está mal. Ambas são necessárias, até porque quem age muitas vezes não consegue discernir o que está mal, e o ideal seria mesmo que houvesse um terceiro tipo de pessoas que conseguisse ao mesmo tempo ver e agir. Mas a tal mutação de que os tugas sofrem, torna-os excelentes a encontrar defeitos e a criticar (na maioria das vezes sem qualquer espirito construtivo), torna-os razoáveis a encontrar soluções para os problemas e o pior é que também os torna incapazes de passar da critica e da idealização à acção. Será possivel mudar este status quo? Eu acho que sim, mas se calhar é por ser mais Pessoa do que Eça,por ser quiçá um idealista, mas caramba eu acredito neste país e acho que estar continuamente a rebaixar a nossa cultura, a nossa identidade, no fundo a nós mesmos enquanto povo lusitano só nos levará a uma situação ainda mais arruinada. É claro que não somos perfeitos, é claro que nos falta civismo, honestidade, lealdade, tudo isso é verdade, mas não é menos verdade que tudo isso é uma questão que pode ser resolvida pela educação. Senão vejamos o exemplo dos nórdicos, que são quase uma utopia de civilização. Qual é a diferença? Têm uma população mais instruída, com um maior grau de escolarização. E como conseguiram isso? Reduzindo as assimetrias sociais. Se eles são capazes porque não seremos nós também? E não me venham com a história dos genes, porque se formos
a ver bem quem são os antepassados dos nórdicos provavelmente chegaremos à conclusão que não eram certamente um modelo de civilização. Bem já escrevi demais, mas pronto esta é uma questão deveras interesssante.
Se calhar o primeiro passo nessa direcção será um que altere o sentido. Andar para trás primeiro. Se deixarmos de acreditar que somos capazes, se calhar deixamos de ter a fé e o ímpeto que nos levam as acções estúpidas que continuamos a ter repetidamente! É por sermos os maiores e por sermos capazes que não vamos a lado nenhum.
Mas isto é só para contrariar :)
Não é uma questão de rebaixar constantemente a cultura ou nós mesmos. É constatar a realidade. Duvido que se consigam reduzir as assimetrias sociais num país em que se pode passar fome dentro de portas só para ter um carro melhor que o do vizinho, ou em que desempregados a receber "rendimento mínimo" tomam o pequeno-almoço na pastelaria e vão ao cabeleireiro todas as semanas. É uma questão cultural profundamente enraizada e que só a muito custo, e com vontade geral (que não há) poderá ser resolvida.
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